Luz e sombra
- R. Dallano
- 13 de ago.
- 2 min de leitura
Por Rodrigo Dallano
Quando revejo essa foto, revivo a mesma sensação que experimentei quando estava naquele lugar.
Era outono de 2017, destino: Cabo Polônio, Uruguai – um lugar incrível. Na época, era baixa temporada; a comunidade se preparava para o rigoroso inverno do sul do continente. Amo o frio, amo lugares onde o silêncio das vozes se faz presente – silêncio esse quebrado apenas pelo som do vento e do mar.
Mas para falar da foto, preciso voltar um pouco e falar do percurso. Parar exatamente na fronteira entre Brasil e Uruguai, na cidade de Chuí – mais precisamente na Estação Rodoviária de Chuí. Entrar na estação foi como voltar no tempo. Parecia que ali o tempo havia parado: um balcão antigo de madeira, chão com pisos pequenos vermelhos, letreiros que remetiam ao passado. Dentro, mesas sem computador ou máquina de escrever, apenas papéis e canetas. No canto, bancos de madeira e apenas dois passageiros à espera.
Pego a máquina e começo a fotografar. Começo pelo banheiro, onde penetra uma luz que, por um instante, me remete a cenas de um filme de Andrei Tarkovsky. Ao sair, faço mais algumas fotos e me deparo com a cena principal: dois senhores, funcionários da rodoviária, emitem passagens e arrumam bagagens. A luz entra por uma porta de vidro fechada – luz e sombra.
Ao ver aquela cena, impossível não lembrar de um dos meus artistas preferidos: Michelangelo Merisi da Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio, o mestre do Barroco. Caravaggio pintou luz e sombra de forma crua e única. Eternizou pessoas comuns em cenas "celestiais". Fez andarilhos e prostitutas se tornarem santos. Fez arte!

A cena naquela estação me trouxe essa referência: luz e pessoas comuns, realizando trabalhos comuns, em um momento comum. Dentro do meu processo de me tornar fotógrafo – processo esse que durará enquanto eu existir –, acredito que a cada dia aprendo um pouco mais. Fui estudar história da arte, cinema, e em muitos momentos vejo cenas que me remetem a um quadro, um filme, um poema.
Aprendo todos os dias que o belo pode estar no banal do cotidiano: uma luz que entra, uma pessoa que passa. A fotografia me ensina diariamente não só a ver, mas a enxergar.






Enxergar e sentir